Foi Celso
Furtado quem primeiro chamou atenção para a ideia da “maldição do petróleo”, a
fim de explicar o atraso de países, um deles a Venezuela, cuja riqueza natural
fez abandonar sua capacidade tecnológica e produtiva.
O Brasil,
mesmo sem ser exportador de petróleo, tem sofrido desta maldição ao longo de
nossa história. Acostumamo-nos com orgulho a sermos uma terra onde “em se
plantando tudo nela dá”, sem a necessidade de inventar produtos, tecnologias,
aumentar produtividade, nem competitividade industrial.
Para crescer,
bastava ampliar a fronteira agrícola, substituindo florestas por plantações de
cana, algodão, café e soja, ou explorar ouro e prata.
Não havia necessidade de inovação tecnológica e de poupança porque podíamos explorar a terra, como outros países faziam com o petróleo.
Esta é a
principal razão que explica por que somos a sexta economia mundial, mesmo sendo
um país tão atrasado em educação, ciência e tecnologia.
Por quase 400 anos de nossa história bastava colocar enxadas nas mãos dos escravos, depois bastava treinar operários no manuseio de máquinas.
Por quase 400 anos de nossa história bastava colocar enxadas nas mãos dos escravos, depois bastava treinar operários no manuseio de máquinas.
Não precisávamos
criar nem inventar máquinas e produtos de nossa indústria porque eles eram
inventados e criados no exterior.
Não foi necessário gastar dinheiro em educação, usávamos a educação dos países que por falta de recursos naturais eram obrigados a desenvolver conhecimento.
Não foi necessário gastar dinheiro em educação, usávamos a educação dos países que por falta de recursos naturais eram obrigados a desenvolver conhecimento.
Chegado o
século XXI, quando a grande riqueza já não é a terra, mas os cérebros,
percebemos o desastre dessa opção de nossa história. Temos uma sociedade
violenta, ineficiente, dependente como nunca antes, sobretudo por falta do
capital conhecimento.
Mas em vez de
despertarmos para a necessidade de assegurarmos educação de qualidade, e
qualidade igual para todos, estamos caindo na ideia de que faremos isto quando
o petróleo do pré-sal nos oferecer os recursos necessários.
Para reservar
cem por cento dos royalties do petróleo para a educação de base, sou autor,
junto com o ex-senador Tasso Jereissati, do primeiro projeto de lei com esta
ideia.
O projeto foi arquivado e agora reapresentado com o senador Aloysio
Nunes. Mas esta alternativa acomoda a opinião pública e as lideranças à espera
de uma renda futura, insuficiente para provocar o salto educacional de que
precisamos.
A revolução
científica e tecnológica que ocorre no mundo exige que o Brasil rompa com a
ideia do “em se plantando tudo nela dá” para a ideia de que “em se aprendendo
nela tudo se cria”. Isto exige iniciar, desde já, a necessária revolução
educacional de que o país precisa.
Mesmo assim,
ouve-se o acomodamento geral de que é preciso esperar pelo pré-sal. Pior do que
outros países, que caíram na maldição do petróleo. Estamos caindo na maldição
da ilusão de um petróleo ainda escondido nas profundezas do mar como a solução
para a nossa crítica e vergonhosa situação educacional.
Até aqui fomos
vítimas da maldição dos recursos abundantes; agora estamos sendo vítimas da
maldição de uma ilusão.
Cristovam
Buarque é senador (PDT-DF).
Admiro o Senador Cristovam Buarque por suas ideias e comportamento que os distingue das figuras abjetas que convivem com ele. Porém, acredito ter faltado uma observação que também não vejo com a frequência necessária nos comentários a respeito do pré-sal.
ResponderExcluirDeve ficar claro que estamos falando de uma energia suja. O mundo está se empenhando em buscar alternativas ao petróleo e o Brasil em contrapartida, comemorando e investindo bilhões para trazer à superfície os “dejetos” que a terra produziu.
A mim parece ser um erro tanto do ponto de vista econômico quando do ambiental concentrar tanto dinheiro em uma matriz energética como o petróleo. Apesar de no curto prazo a demanda pelo ouro negro ainda existir a mesma tenderá a diminuir. Isto porque o desejo da diminuição da dependência aliada à ideia de um mundo mais sustentável vem corroborando para haja grandes investimentos em tecnologias como o carro elétrico. Este já é uma realidade na Europa e no Japão e por aqui, além de não incentivarmos pesquisas nesta área, tributamos os que poderiam ser importados. Poderíamos investir mais no etanol ou no biodiesel, mas estes parecem ter saído das graças de nossos governantes.
Agora se é para continuar com esta visão atrasada que ao menos seja de maneira mais comedida, sem tanta festa.