O gabinete da prefeita de Nova Laranja, na opinião de funcionários, fornecedores e de alguns aliados políticos, é o mais tenso e incômodo dentre todas as salas de espera das prefeituras desse lado que chamamos de viveiros de citricultores.
Quem ousar sorrir para uma de suas ajudantes de ordens, na intenção de se obter uma relação cordial, terá como resposta, o olhar de desdém, do tipo o que vem de baixo estressa e cansa nossa rara beleza, portanto não nos dê o desprazer de ouvir sua voz.
Dias desses, a prefeita, imitou o gênero faço e aconteço e, saiu às ruas para uma inspeção fora da rotina de festas e coquetéis, e já no calçadão, tomado de camelôs, constrangida deparou com uma viatura oficial acintosamente parada entre a calçada e parte da rua.
A pergunta que não quer calar bateu firme nos assessores que acompanhavam a prefeita: O que estaria fazendo um carro da prefeitura, estacionado junto do comércio informal? O que seus ocupantes queriam com os camelôs?
Nossa brava e destemida prefeita, ordenou a uma das maravilhas do seu staff que procurasse os ocupantes do vil e odioso veículo. Os briosos já vieram com a desculpa na ponta da língua - de estarem a postos para que nenhuma outra barraca viesse se instalar no local.
Por um momento, os defensores da lei e da postura tremeram na base, em ser mal interpretados, de serem acusados injustamente de algo que jamais seriam capazes de fazer. Qual o quê, a prefeita viu algo além do pomar de laranjas e laranjeiras. O que ela viu?
Ela viu que o símbolo da prefeitura estampado no carro, estava sujo e desbotado, e não se via o brasão da cidade, isso era inadmissível, imperdoável e, diante duma platéia incrédula, sua excelência deu a maior bronca no motorista do camburão, digo, do furgão.
E em passos exaustivamente ensaiados, a soberana primeira e única da Laranja Madura da beira de estrada, com o melhor do seu sorriso saiu a andar altiva entre imagináveis súditos e raia miúda e, atrás a comitiva perplexa, com tamanha pureza e singeleza.
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