sexta-feira, 5 de abril de 2013

"UMA ESTÁTUA SEM O CAVALO"

Carlos Gilberto Triel

Um “jornalista” que viveu em Duque de Caxias, na segunda metade do século passado, talvez receoso de perder tudo que havia ganhado, caso houvesse uma reviravolta no sistema político vigente, fazia jogo duplo com os políticos de oposição e com a ditadura militar.

Jamais se indispôs contra qualquer uma das partes, coisa assim de acender velas para Deus e o Capeta. Exaltava as excelências no seu jornal e nos microfones da Difusora com lágrimas nos olhos. O Brasil, dizia ele, com os generais, marchava para o progresso, e repetia fervorosamente o slogan do ame-o ou deixe-o. 

Os vereadores o adoravam. Por todas as legislaturas se fez presente, o mais laureado da imprensa nanica, festejado com as mais importantes monções e comendas da Câmara – e o primeiro da fila das verbas oficiais e, sem fazer ideia de valor, e fazendo, seria um sucesso nos dias de hoje aqui em Nova Iguaçu.

A página inesquecível de toda sua carreira como porta-voz da boquinha oficial se revelou ao ser interpelado por um repórter do Jornal do Brasil, sobre os prefeitos corruptos que se locupletavam no cargo: “Não existiam provas e se existissem, não provavam nada”. 

E continuou: “Acho inconcebível usar o microfone ou jornal para dizer que um político roubou. Onde se viu um homem culto, bem vestido, ser acusado de roubo, ladrão é quem assalta a mão armada, um prefeito nunca rouba!”

Certa vez, um dos interventores quis uma nova estátua do herói pra cidade, e ele, convocado a opinar, sugeriu que viesse sem o cavalo, não só baratearia o seu custo, como sobraria um valor significativo para a promoção do evento no jornal e na Rádio e, assim foi feito.

A reflexão do certo e do errado, o que não se fazer para ganhar o aplauso dos fracos, etc. são referências de valor que se leva vida afora. Mas, o pavor de perder as tralhas adquiridas leva alguns ao delírio de que uma das formas de manter o seu status é o não falo, não ouço e não vejo.

Cada um escolhe o lado que melhor se adequa à sua existência. Hoje, se vivo fosse, essa espécie de hospedeiro eterno do erário estatal, que deixou a estátua do soldado Duque de Caxias a pé, sem o cavalo, por certo agregaria valores à sua picaretagem à falar de Deus na TV ou no Congresso . 



Nenhum comentário:

Postar um comentário