Por Sandro Vaia
O Brasil é um país pitoresco. Quando
parece que o apocalipse se aproxima, tudo vira pizza.
Foi mais ou menos o que aconteceu no
Supremo Tribunal Federal durante o julgamento dos recursos dos mensaleiros condenados
a vários anos de prisão.
Na primeira semana de julgamento dos
recursos, dois dos principais juízes - o áspero presidente Joaquim Barbosa e o
sibilino Lewandowski - trocaram alguns insultos que pareciam irreparáveis.
O mais grave deles foi proferido por
Joaquim Barbosa em relação a Lewandowski.
O presidente do STF acusou o ministro
blandicioso e maneiroso de querer fazer “chicana”, o que em juridiquês equivale
mais ou menos a gritar “juiz ladrão” na arquibancada.
Barbosa foi acusado de prepotente e autoritário,
o que não escapa muito do senso comum sobre o comportamento dele desde que
assumiu sua cadeira no Supremo, e mais ainda quando assumiu a presidência, por
uma regra que obriga a rotatividade entre eles no cargo máximo.
Sim, Barbosa não é propriamente um
gentleman.
Chegaram a escrever aqui mesmo, neste
blog (e o dono do blog pode muito bem escrever o que lhe dê na telha) que a
destemperança do ministro tem alguma coisa a ver com a questão racial.
Discussão ociosa, excelente para ganhar
tempo e para provocar polêmica. Acusar alguém de racista hoje em dia é um
esporte mais popular que o críquete na Índia.
O que acontece na verdade é o seguinte:
Barbosa não é propriamente um moço de fino trato e se há alguma coisa que ele
não tem de admirável são os bons modos.
É grosso, mal educado, boquirroto, e já
demonstrou isso muitas vezes, principalmente quando mandou um juiz calar a boca
e dizer que ele só poderia falar com sua expressa autorização durante um
encontro com entidades classistas de juízes para debater a aprovação de uma lei
que criava novos tribunais federais - ao custo, segundo ele, de 8 bilhões de
reais.
O que vamos fazer? Jogá-lo na fogueira
com a sua toga esvoaçante? Condená-lo por ser um Pai Tomás que foi nomeado
ministro do Supremo por isso e mandar que fique no seu lugar?
O fato é que o que ele denunciou - que
o ministro Lewandowski estava tentando fazer “chicana” e diminuir a pena dos
mensaleiros através de recursos jurídicos protelatórios - era uma absoluta
verdade, e o grito de Barbosa acordou os espíritos adormecidos.
Jamais alguém deveria pensar em Barbosa
presidente. Jamais alguém deveria sonhar com salvadores da Pátria e homens
providenciais. A História ensina que homens providenciais sempre resultaram em
tragédias.
Mas o fato é que o Barbosa casca
grossa, mal educado, impertinente, petulante e autoritário matou o ovo da
serpente ainda no ninho. Jogou luz sobre a chicana que se articulava e a matou
no nascedouro.
Conclusão: mais vale um Barbosa
estúpido na mão que um Lewandowski faceiro, elegante e sibilino voando na construção
de sua sutil chicana cheia de mesuras.
Transcrito do Blog do Noblat
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