segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A QUEM INTERESSA A MORDAÇA

Na segunda metade do século passado, um “jornalista” de Duque de Caxias, comumente fazia sua peregrinação, ora na Câmara, ora na Prefeitura dos generais a fim de levantar um troco qualquer.

Sua picaretagem era democrática, não livrava a cara de ninguém, gabava-se de ser amigo de todos, e dizia com orgulho indisfarçável de que nunca em toda sua carreira teve um só desafeto.

Jamais se indispôs contra qualquer político, coisa assim de acender velas uma para Deus, outra ao Bispo. Exaltava as excelências em seu jornal e, diante dos microfones da Rádio Difusora, com lágrimas nos olhos batia continência aos herois da pátria.

O Brasil, dizia ele, com os generais, marchava para o progresso. 

Os vereadores o adoravam. Por todas as legislaturas se fez presente, o mais laureado da imprensa nanica, festejado com as mais importantes medalhas da Câmara – e o primeiro da fila das verbas oficiais.

Certa vez, ao ser interpelado por um repórter do Jornal do Brasil, sobre os prefeitos e vereadores corruptos que se locupletavam no cargo, saiu com essa pérola:

- “Não existiam provas e se existissem, não provavam nada”. 

A desfaçatez não tinha limites:

- “Acho inconcebível usar o microfone ou jornal para dizer que um político roubou. Aonde se viu um homem culto, bem vestido, ser acusado de roubo, ladrão é quem assalta a mão armada, um prefeito, um vereador nunca roubam!”

Hoje, se vivo fosse, esse "cuidador da informação", cuja fauna se esquiva entre salas e corredores, que faz da profissão uma coluna social do apresento você a ele, e você me arruma uma comissão, seria um dos primeiros a puxar a fila pela regulação da imprensa.

Para esses o golpe na receita publicitária dos grandes veículos abrasaria seus recalques por não trabalhar lá, o controle indireto do conteúdo à remissão dos pecados, e a estatização do jornalismo - a garantia duma carreira sólida e sem riscos. 

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