quarta-feira, 22 de maio de 2013

“O IDIOTA FIEL”

Carlos Gilberto Triel

Na loja de material elétrico “A Luminosa”. O balcão está sempre lotado e, para ser atendido é preciso pegar a senha e aguardar a ordem de chamada.

A jovem senhora de uns 38 anos, bonita, sorriso fácil, espera a sua vez.

Outro cliente, mais atrás, camiseta estampada de “Deus é Fiel”, é o próximo a ser chamado. De forma acintosa, põe a mão no ombro da mulher:
- Aí minha Tia, dá licença...

Ela ficou pasma, não pela inconveniência do toque, mas, por ser chamada de “Minha Tia”. Olhou para o homem, como se não acreditasse no que ouvira:
- O sujeito, mesma faixa etária, talvez até mais velho, lhe chamara de TIA!?

A moça fez uma cara de tristeza de dar dó.

Em menos de 1 minuto, a pessoa que se destacava pela cara feliz, agora, leva a mão a boca em ameaça de choro. Não só perdera a vontade, como nem sabia mais o que comprar, então esfrega o antebraço na lágrima que desponta, e decide ir embora.

Deus é Fiel!... A deselegância nunca esteve tão alta.

Tanta conversa jogada fora nos sermões dos púlpitos e se esquecem do principal, de ensinar que esses pequenos delitos desencadeiam tragédias invisíveis.

Quando chegou minha vez de ser atendido, o “garotão” estava ali, bem à minha frente, na mesma posição da mulher e, não hesitei um só instante em submeter ao homenzinho de Deus o principio básico da razão:
- Dá licença aí Tiozinho...

Agora era ele quem não acreditava que estava sendo chamado de tio, de tiozinho, que é um tio mais velhinho.

Virou-se atônito e, mais surpreso ao ver que quem lhe chamou assim, era um cara mais velho. Provar do próprio veneno não estava no seu script.

Comprei o que precisava, fui ao caixa, e ao sair, já do lado de fora, ainda o reencontrei na calçada um tanto quanto fora de prumo.

Encarei-o como se encara bêbados, fanáticos e idiotas, e completei:

- É isso aí meu Tio, perdeu!

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