sábado, 13 de julho de 2013

LADRÕES "MILAGREIROS"


Rodrigo Francisco Dias*

Há vários anos a dupla sertaneja Zilo & Zalo gravou uma canção chamada “O Milagre do ladrão”.

A história contada pela música é comovente. Um menino paraplégico ouve de sua mãe que um dia Jesus Cristo virá curá-lo.

Quando um ladrão invade a casa do menino, o garoto pensa que aquele estranho é Jesus, levanta-se da cama e caminha até ele. “O inocente no momento foi curado, sem perceber que era o milagre de um ladrão”, cantam Zilo & Zalo ao fim da música.

Uma canção sobre o poder da fé, e também sobre a ingenuidade e a inocência de uma criança.

De uns anos para cá temos acompanhado o aumento do número de novas igrejas, bem como a expansão de instituições religiosas mais antigas.

Tem sido espantoso ver que em muitas dessas instituições existem verdadeiros ladrões, pessoas interessadas unicamente em explorar a fé, a inocência e a ingenuidade dos fieis.

São líderes religiosos que almejam, no fundo, apenas o enriquecimento pessoal. Sob o disfarce de “homens de Deus”, tais lideranças querem somente o dinheiro dos outros.

Pessoas que enfrentam diversos problemas – doenças, dificuldades financeiras, dependentes químicos na família, falta de sorte no amor etc – são atraídas por representantes de tais religiões que prometem a solução para todos esses obstáculos, desde que haja uma contribuição financeira por parte daquele que quer “mudar de vida”.

Sedutores, muitos desses líderes religiosos usam até programas de TV para “vender o seu produto”. E eles sabem bem como projetar a voz, como gesticular e como controlar suas expressões faciais na telinha.

E convencem os fiéis! Fragilizadas pelos problemas cotidianos da vida, muitas pessoas acabam “comprando o peixe” desses mercadores da fé, por vezes a altos preços.

E se determinado problema é superado, o fiel acaba creditando todos os méritos à sua igreja, ao seu líder, e não ao próprio esforço pessoal ou a outros fatores.

Muitos inocentes estão sendo curados por aí, e não estão percebendo que os “milagres” são operados por pessoas ainda mais mal intencionadas que o ladrão da música de Zilo & Zalo.

A fé não tem movido apenas montanhas, mas também tem movimentado muito dinheiro. E quem está realmente lucrando com isso?

Quanto a mim, faço minhas as palavras do próprio Cristo: “Não transformem a casa de meu Pai num mercado”. Mesmo porque a minha ligação com Deus dispensa atravessadores…

*Rodrigo Francisco Dias é mestrado em História pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

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