Carlos Gilberto Triel
Assim como o nosso Correio da Lavoura, que
registra há 50 anos os fatos marcantes da época, O Globo relatou um episódio pitoresco
ocorrido em Recife na procissão de Quinta-feira Santa publicado na edição do
jornal em 11 de maio de 1957.
A encenação corria normalmente até que,
sentindo uma chicotada mais forte, o ator que fazia o Cristo pediu baixinho ao outro,
no papel do Legionário Romano, para que ele maneirasse na chicotada:
-Aí colega, vai devagar nessa de
chicotear porque tudo isso aqui é uma encenação! Tá doendo, amigo...
Mas qual o quê, empolgado no papel do “Legionário”,
o ator manteve a banca e ainda disse que ele era um profissional e estava
vivenciando o personagem, e pra vivenciar o personagem, ele tinha que bater pra
valer.
Jesus não perdeu tempo, largou a cruz
que estava carregando, digo, o ator que fazia o papel de Jesus, largou a cruz
no chão e partiu para cima do legionário romano que o açoitava e cobriu o cara
de pancada.
E tudo isso diante da plateia que foi ao
delírio, a comoção foi indescritível, ovacionaram o “Jesus” como se tudo aquilo
fizesse parte do roteiro, como se fosse tudo verdade, o Bem, ali a sua frente, triunfando
sobre o Mal.
Hoje, religiosos impacientes com esse
Jesus repetitivo de amor e caridade, não fazem por menos, querem porque querem
transformá-lo num Deus igualzinho ao ator da peça que parte para a briga,
destruindo o inimigo, assim dá muito mais ibope.
E não faltam canções de idênticos refrãos
de que o Deus esmagará a cabeça do inimigo e, a vitória dos seus escolhidos se
fará resplandecer sobre os maus, e não mais existirá outro povo sobre a terra a
não ser o cristão vencedor.
Num sei não, mas acho que todo esse destempero
do vereador Eduardo do Doce deve-se a esse modismo de humanizar a figura divina
de acordo com os valores necessários à subsistência da lojinha aos imensos supermercados da Fé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário