segunda-feira, 15 de julho de 2013

“JESUS BOM DE BRIGA”

Carlos Gilberto Triel

Assim como o nosso Correio da Lavoura, que registra há 50 anos os fatos marcantes da época, O Globo relatou um episódio pitoresco ocorrido em Recife na procissão de Quinta-feira Santa publicado na edição do jornal em 11 de maio de 1957.

A encenação corria normalmente até que, sentindo uma chicotada mais forte, o ator que fazia o Cristo pediu baixinho ao outro, no papel do Legionário Romano, para que ele maneirasse na chicotada:

-Aí colega, vai devagar nessa de chicotear porque tudo isso aqui é uma encenação! Tá doendo, amigo...

Mas qual o quê, empolgado no papel do “Legionário”, o ator manteve a banca e ainda disse que ele era um profissional e estava vivenciando o personagem, e pra vivenciar o personagem, ele tinha que bater pra valer.

Jesus não perdeu tempo, largou a cruz que estava carregando, digo, o ator que fazia o papel de Jesus, largou a cruz no chão e partiu para cima do legionário romano que o açoitava e cobriu o cara de pancada.  

E tudo isso diante da plateia que foi ao delírio, a comoção foi indescritível, ovacionaram o “Jesus” como se tudo aquilo fizesse parte do roteiro, como se fosse tudo verdade, o Bem, ali a sua frente, triunfando sobre o Mal.

Hoje, religiosos impacientes com esse Jesus repetitivo de amor e caridade, não fazem por menos, querem porque querem transformá-lo num Deus igualzinho ao ator da peça que parte para a briga, destruindo o inimigo, assim dá muito mais ibope.

E não faltam canções de idênticos refrãos de que o Deus esmagará a cabeça do inimigo e, a vitória dos seus escolhidos se fará resplandecer sobre os maus, e não mais existirá outro povo sobre a terra a não ser o cristão vencedor.

Num sei não, mas acho que todo esse destempero do vereador Eduardo do Doce deve-se a esse modismo de humanizar a figura divina de acordo com os valores necessários à subsistência da lojinha aos imensos supermercados da Fé.

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