Cristovam
Buarque
Foi Celso
Furtado quem primeiro chamou atenção para a ideia da “maldição do petróleo”, a
fim de explicar o atraso de países, um deles a Venezuela, cuja riqueza natural
fez abandonar sua capacidade tecnológica e produtiva.
O Brasil,
mesmo sem ser exportador de petróleo, tem sofrido desta maldição ao longo de
nossa história. Acostumamo-nos com orgulho a sermos uma terra onde “em se
plantando tudo nela dá”, sem a necessidade de inventar produtos, tecnologias,
aumentar produtividade, nem competitividade industrial.
Para crescer,
bastava ampliar a fronteira agrícola, substituindo florestas por plantações de
cana, algodão, café e soja, ou explorar ouro e prata.
Não havia necessidade de
inovação tecnológica e de poupança porque podíamos explorar a terra, como
outros países faziam com o petróleo.
Esta é a
principal razão que explica por que somos a sexta economia mundial, mesmo sendo
um país tão atrasado em educação, ciência e tecnologia.
Por quase 400 anos de
nossa história bastava colocar enxadas nas mãos dos escravos, depois bastava
treinar operários no manuseio de máquinas.
Não precisávamos
criar nem inventar máquinas e produtos de nossa indústria porque eles eram
inventados e criados no exterior.
Não foi necessário gastar dinheiro em
educação, usávamos a educação dos países que por falta de recursos naturais
eram obrigados a desenvolver conhecimento.
Chegado o
século XXI, quando a grande riqueza já não é a terra, mas os cérebros,
percebemos o desastre dessa opção de nossa história. Temos uma sociedade
violenta, ineficiente, dependente como nunca antes, sobretudo por falta do
capital conhecimento.
Mas em vez de
despertarmos para a necessidade de assegurarmos educação de qualidade, e
qualidade igual para todos, estamos caindo na ideia de que faremos isto quando
o petróleo do pré-sal nos oferecer os recursos necessários.
Para reservar
cem por cento dos royalties do petróleo para a educação de base, sou autor,
junto com o ex-senador Tasso Jereissati, do primeiro projeto de lei com esta
ideia.
O projeto foi arquivado e agora reapresentado com o senador Aloysio
Nunes. Mas esta alternativa acomoda a opinião pública e as lideranças à espera
de uma renda futura, insuficiente para provocar o salto educacional de que
precisamos.
A revolução
científica e tecnológica que ocorre no mundo exige que o Brasil rompa com a
ideia do “em se plantando tudo nela dá” para a ideia de que “em se aprendendo
nela tudo se cria”. Isto exige iniciar, desde já, a necessária revolução
educacional de que o país precisa.
Mesmo assim,
ouve-se o acomodamento geral de que é preciso esperar pelo pré-sal. Pior do que
outros países, que caíram na maldição do petróleo. Estamos caindo na maldição
da ilusão de um petróleo ainda escondido nas profundezas do mar como a solução
para a nossa crítica e vergonhosa situação educacional.
Até aqui fomos
vítimas da maldição dos recursos abundantes; agora estamos sendo vítimas da
maldição de uma ilusão.
Cristovam
Buarque é senador (PDT-DF).