True Ourspeak de 22/11/2010 transcrito por Felipe Moura Brasil
(...) A camada intelectual é constituída de pessoas frágeis. Sempre foi assim.
São pessoas que às vezes não têm uma posição definida na sociedade, que têm
muitas ambições e poucos meios de realização... Então esse pessoal sempre traz
um grande ressentimento dentro de si.
E olha o mundo e vê o que lhe parece
ser a vitória dos maus, que nem sempre são tão maus quanto ele imagina. Mas,
diante dessa revolta, ele vendo o poder do mal no mundo, ele se impressiona com
o poder do mal, e impressionar-se ante um poder já é cultuá-lo, já é cair sob o
domínio dele.
Então o sujeito começa a entrar na
dialética do mal: ele lê Maquiavel, lê Nietzsche, essa coisa toda, e aí vai
elaborar a sua revolta, sem perceber que, com isso, ele está ele próprio se
transformando num instrumento do demônio.
Quer dizer: quanto mais revoltado
contra o mal do mundo o sujeito está, mais mal ele vai fazer, isso aí é a coisa
mais óbvia.
O ser humano não nasceu para corrigir o mundo. A esfera de ação própria do ser
humano é muito pequena. E hoje em dia todo mundo tem a ambição de criar um
mundo melhor. Qualquer garoto de 12 anos está criando um mundo melhor.
Então é essa ambição de criar um mundo
melhor que faz os camaradas entrarem numa luta pelo poder — porque, se você
quer mudar o mundo, você precisa ter o poder para modificá-lo —, então
modificar o mundo, melhorar o mundo passa a ser o capítulo 2; o capítulo 1 é
conquistar o poder.
Esse pessoal cria uma obsessão de
poder, e todos eles se corrompem até o fundo da alma, e se transformam eles
mesmos em maiores propagadores do mal ainda. Então isso não é porque o sujeito
fosse um idealista.
Esse negócio de que os jovens entram nas lutas sociais por ser um idealista,
isso é uma patacoada. Que garoto de 14 ou 15 anos tem uma visão correta da
sociedade, da pobreza etc.? Que garoto de 14 anos está mais interessado nos
outros do que em si mesmo? Me diga. Isso é impossível.
Um garoto de 14 anos está lutando pela sua
autorrealização. E, se ele está revoltado com a injustiça no mundo, é porque
ele se sente injustiçado, embora na maior parte dos casos não o seja.
Então ele projeta esse seu sentimento
de injustiça nos outros, e diz que ele está representando então os pobres e
oprimidos. Isso é uma mentira!
Eu digo isso analisando o quê? A minha própria
geração e a mim mesmo. O que é que eu sabia da pobreza e da
miséria do Brasil quando pela primeira vez me fascinei pelas ideias de
esquerda? Não sabia coisíssima nenhuma!
Eu sabia que eu estava me sentindo mal.
Eu me sentia mal e oprimido, então odiava qualquer coisa que representasse aos
meus olhos a autoridade. Então eu estava lutando é pelos meus próprios
interesses, pela minha própria vaidade, como todos daquela época!
Eu, inclusive, veja, no Partido Comunista, se você perguntar quem você conheceu
que fosse uma pessoa piedosa, caridosa, que tivesse realmente piedade pelos
pobres, que tentasse ajudá-los diretamente, não conheci um! Nem um único! Eram
todos corações secos! Todos eles!
Então o sujeito está lutando pela sua
própria vaidade, mas, como se engana a si mesmo, achando que ele é o salvador
que está lutando contra o mal, quanto mais ele pensa assim, mais ele se
impregna do mal por via da vaidade. (...)
Fonte Olavo de Carvalho