Carlos Gilberto Triel
Já contei aqui sobre o filme Muito Além
do Jardim, em que Peter Sellers vive o Sr. Chance, um jardineiro nova-iorquino de 60 anos,
analfabeto, sem documento e sem laços sociais e, tudo que sabe das pessoas e do
mundo aprendeu pela televisão.
Quando seu patrão morre é despejado da
casa onde nasceu e viveu. O destino lhe põe na mansão de um empresário rico,
muito doente e ainda politicamente poderoso.
O anfitrião, no leito de morte, e a
bela esposa (Shirley MacLaine) ficam encantados com aquele homem de sinceridade
desconcertante.
Em determinado momento do enredo, o milionário
recebe a visita de nada mais, nada menos, do que o presidente dos Estados Unidos,
que também acaba se impressionando com o jardineiro.
A partir daí, tudo o que Chance fala, e
até mesmo quando se cala, é visto além das formas de percepção e, cada ação
isolada do jardineiro se apresenta à consciência de cada um à sua volta como algo
genial.
E o homenzinho vai parar no programa de
maior audiência da TV americana e, depois fazer a mocinha (MacLaine) ter
orgasmos telepáticos e, nos funerais do milionário, o comentário geral era de
que seria um bom nome para suceder o presidente dos EUA.
Ora, o jardineiro era um idiota, o
médico do milionário quem descobriu isso, mas não disse nada, deixou que a
farsa encaixasse nas vidas das demais pessoas porque entendia que até mesmo uma
nação tem o que merece.
Mas, ao contrário do jardineiro, quando
nos chega à idiotice mal educada empunhando manual de instruções, se arvorando ora
no coice, ora num refinamento que não é a sua praia, o melhor é deixa-lo além
das linhas da arrebentação.
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