quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

ALEM DA LINHA DA ARREBENTAÇÃO

Carlos Gilberto Triel

Já contei aqui sobre o filme Muito Além do Jardim, em que Peter Sellers vive o Sr. Chance, um jardineiro nova-iorquino de 60 anos, analfabeto, sem documento e sem laços sociais e, tudo que sabe das pessoas e do mundo aprendeu pela televisão.

Quando seu patrão morre é despejado da casa onde nasceu e viveu. O destino lhe põe na mansão de um empresário rico, muito doente e ainda politicamente poderoso.

O anfitrião, no leito de morte, e a bela esposa (Shirley MacLaine) ficam encantados com aquele homem de sinceridade desconcertante. 

Em determinado momento do enredo, o milionário recebe a visita de nada mais, nada menos, do que o presidente dos Estados Unidos, que também acaba se impressionando com o jardineiro.

A partir daí, tudo o que Chance fala, e até mesmo quando se cala, é visto além das formas de percepção e, cada ação isolada do jardineiro se apresenta à consciência de cada um à sua volta como algo genial.

E o homenzinho vai parar no programa de maior audiência da TV americana e, depois fazer a mocinha (MacLaine) ter orgasmos telepáticos e, nos funerais do milionário, o comentário geral era de que seria um bom nome para suceder o presidente dos EUA.

Ora, o jardineiro era um idiota, o médico do milionário quem descobriu isso, mas não disse nada, deixou que a farsa encaixasse nas vidas das demais pessoas porque entendia que até mesmo uma nação tem o que merece.

Mas, ao contrário do jardineiro, quando nos chega à idiotice mal educada empunhando manual de instruções, se arvorando ora no coice, ora num refinamento que não é a sua praia, o melhor é deixa-lo além das linhas da arrebentação. 

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