Há algum tempo atrás foi publicado num jornal de circulação modesta um episódio pitoresco ocorrido no norte do país durante uma apresentação da peça religiosa A Paixão de Cristo.
A encenação corria normalmente até que sentindo uma chicotada mais forte, o ator que fazia o papel de Jesus Cristo pediu baixinho para outro que fazia o do legionário romano, para maneirar na chicotada porque estava doendo:
-“Aí colega, devagar no chicote, isso aqui é uma encenação! Está machucando, amigo...”
O “legionário” deu nos ombros e ainda teve a cara de pau de dizer que era um profissional e estava vivenciando o personagem, e pra vivenciar o personagem, ele tinha que bater pra valer.
Jesus largou a cruz que estava carregando, digo, o ator que fazia o papel de Jesus; largou a cruz e partiu para cima do colega que interpretava o soldado que o açoitava e cobriu o cara de socos e pontapés.
O público já acostumado com as versões que se ensina no evangelho da TV de que Jesus também é um Deus de Vitória, gostou muito da reação do “Senhor”, algo assim como milagre e quem sabe uma reviravolta na versão do Cristo crucificado.
E nesse instante a plateia veio ao delírio e, assim como torcedores de times de futebol passaram a gritar rei, rei, rei o Jesus é o nosso Rei e, alguns chegaram a invadir o palco para bater no legionário, esmagar a cabeça do inimigo.
Que os iletrados, analfabetos funcionais e pessoas fragilizadas
pela dor se emblemem por aí. À temporada de caça se renova com as iscas mais atraentes,
e a permissividade na venda de horários nos canais de TV privada corre livre e
solta.
Que a figura de Jesus é hoje
um fator laranja para os picaretas da fé todo mundo sabe. Mas, pessoas tidas como
razoáveis à levantar plaquinhas no Facebook repetindo as mesmas palavras de
ordem dos laranjeiros, nem o diabo faria um papel tão deselegante.
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