No filme Muito Além do
Jardim, EUA, 1979, o ator Peter Sellers vive o Sr. Chance, um jardineiro
nova-iorquino de 60 anos, analfabeto, sem documento e laços sociais, o que ele
soube das pessoas e do mundo aprendeu pela televisão.
Quando seu patrão morre
é despejado da casa onde nasceu e viveu. O destino lhe põe na mansão de um
empresário rico, muito doente e ainda politicamente poderoso.
O anfitrião, no leito de
morte, e a bela esposa (Shirley MacLaine) ficam encantados com aquele homem de
sinceridade desconcertante.
Em determinado momento
do enredo, o milionário recebe a visita de nada mais, nada menos, do que o
presidente dos Estados Unidos, que também acaba impressionado com o jardineiro.
A partir daí, tudo o que
Chance fala, e até mesmo quando se cala, é visto além das formas de percepção,
cada ação isolada do jardineiro se apresenta à consciência de cada um à sua
volta como algo genial, mas ninguém percebe, pelo contrário, os outros
entendem como belíssimas metáforas sobre a política e a vida.
E o homenzinho vai parar
no programa de maior audiência da TV americana, faz a mocinha (MacLaine) ter
orgasmos telepático, o próprio marido entender e perder o medo da morte,
e nos funerais desse milionário, o comentário geral era de que ele seria um
bom nome para suceder o presidente dos EUA.
Ora, o jardineiro era um
idiota, apenas o médico do milionário havia descoberto isso, mas não disse nada,
deixou que a farsa encaixasse nas vidas das demais pessoas porque entendia que todos ali faziam por merecer.
Mas, ao contrário do
filme, nesses tempos em que as narrativas dos devotos com suas conveniências políticas, nos chega
empunhando manual de instruções de um mundo melhor para o Brasil, se não fosse um personagem, esse médico por certo nos aconselharia a manter uma prudente
distância tamanho o cabedal de aberrações.