sexta-feira, 29 de setembro de 2023

"ME ENGANA QUE EU GOSTO"

No filme Muito Além do Jardim, EUA, 1979, o ator Peter Sellers vive o Sr. Chance, um jardineiro nova-iorquino de 60 anos, analfabeto, sem documento e laços sociais, o que ele soube das pessoas e do mundo aprendeu pela televisão.

Quando seu patrão morre é despejado da casa onde nasceu e viveu. O destino lhe põe na mansão de um empresário rico, muito doente e ainda politicamente poderoso.

O anfitrião, no leito de morte, e a bela esposa (Shirley MacLaine) ficam encantados com aquele homem de sinceridade desconcertante. 

Em determinado momento do enredo, o milionário recebe a visita de nada mais, nada menos, do que o presidente dos Estados Unidos, que também acaba impressionado com o jardineiro.

A partir daí, tudo o que Chance fala, e até mesmo quando se cala, é visto além das formas de percepção, cada ação isolada do jardineiro se apresenta à consciência de cada um à sua volta como algo genial, mas ninguém percebe, pelo contrário, os outros entendem como belíssimas metáforas sobre a política e a vida.

E o homenzinho vai parar no programa de maior audiência da TV americana, faz a mocinha (MacLaine) ter orgasmos telepático, o próprio marido entender e perder o medo da morte, e nos funerais desse milionário, o comentário geral era de que ele seria um bom nome para suceder o presidente dos EUA.

Ora, o jardineiro era um idiota, apenas o médico do milionário havia descoberto isso, mas não disse nada, deixou que a farsa encaixasse nas vidas das demais pessoas porque entendia que todos ali faziam por merecer.

Mas, ao contrário do filme, nesses tempos em que as narrativas dos devotos com suas conveniências políticas, nos chega empunhando manual de instruções de um mundo melhor para o Brasil, se não fosse um personagem, esse médico por certo nos aconselharia a manter uma prudente distância tamanho o cabedal de aberrações. 


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