Quem noticia que Olavo de Carvalho morreu esquece que certas pessoas são agraciadas com uma espécie de imortalidade. Por suas obras, elas se fragmentam em milhões de outros indivíduos, contemporâneos e pósteros. Elas permanecerão vivas nas bibliotecas e seu pensamento continuará a suscitar reflexões, verbalizações e ações.
Há
muitos anos, lá pelo início da década de 90, recebi um convite do Olavo para me
reunir com ele e outras pessoas em São Paulo. Iríamos conhecer-nos e trocar
ideias sobre os rumos do Brasil. Estranhei o convite porque eu era apenas
aquele que ainda sou, um discreto cronista provinciano. Como um filósofo do
centro do país, com brilhantes artigos publicados assiduamente nos principais
jornalões, havia tomado conhecimento da minha existência? Até hoje não sei a
resposta e não a obtive sequer quando compareci àquele e a outros encontros que
se seguiram, em São Paulo e Curitiba. Nesses eventos, de conversa amável e
generosa, conheci, entre outros, a Graça Salgueiro, o Heitor de Paola, o José
Monir Nasser, o Nivaldo Cordeiro, o Eduy Ferro, o Carlos Illitch Azambuja.
Convivi
com ele e sua família quando, morando em Curitiba, convidou-me para gravarmos
um programa de TV com a participação do saudoso José Monir sobre meu livro
"A tragédia da Utopia". Se, por um lado, nesse breve convívio,
conheci um sábio que passou a influenciar fortemente minha formação - ainda que
nunca tenha sido formalmente seu aluno -, por outro conheci sua família,
pernoitei na casa deles onde fui acolhido de modo doce e amável pela Roxane e
pelos filhos, então pouco mais que adolescentes. Vi um lar como poucos, uma
usina de amor e sabedoria (mais ou menos a mesma coisa, não?). Anos mais tarde,
desde os EUA, o trabalho de Olavo iria se derramar em proporções inimagináveis
pelo país inteiro e mundo afora.
No
meu amado grupo de estudos, que há décadas se reúne semanalmente, quase todos
estudam com ele, o intelectual que mais influenciou o Brasil, positivamente, no
século 21.
Neste
dia, em que sim, há luto, estou em oração com a querida Roxane, filhos e netos.
Melhor do que ninguém eles sabem o imenso bem representado pelo convívio que
tiveram e quanto amor recolhem e continuarão a recolher de milhões de
brasileiros nessa perene memória do coração chamada saudade.
Percival
Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas
de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a
tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo
Pensar+.
Nenhum comentário:
Postar um comentário