sexta-feira, 26 de julho de 2019

MÁQUINA DE DÍVIDAS

O engenheiro Roberto Moraes, professor e titular sênior da IFF (ex-CEFET Campos, RJ) diz que hoje se observa cada vez mais um moto contínuo. Uma máquina ininterrupta de multiplicação das dívidas onde as taxas de juros baixaram, mas a economia se globalizou e as cadeias de produção se espalharam. As taxas de juros são menores, mas as taxas de lucros maiores.

E quem tem dinheiro precisa fazê-lo circular sob a forma de papel ou capital fixo. A máquina das dívidas é hoje quem puxa a economia e captura as rendas locais. Não necessariamente através dos juros, mas com o controle dos negócios.

As dívidas se dividem em dívidas internas (tesouro das nações) e as externas tomadas pelos governos, corporações e as famílias e pessoas.

Agora no meio do ano de 2019, o bolo da dívida mundial chegou a US$ 243 trilhões. Em dezembro do ano passado elas eram de US$ 184 trilhões, segundo dados do IIF (Institute of International Finance).

E que muitos estudiosos consideram esse "circuito das dívidas" algo monstruoso e incontrolável, mas reconhecem o fato que ela tem movimentado o capitalismo contemporâneo pelo lado da montante ofertando crédito, mesmo que a juros menores, que parece em parte, compensados por maiores taxas de lucros, obtidas pela captura das rendas derivadas do trabalho e da propriedade mundo afora.

De um lado, as 30 maiores economias emergentes (incluindo a China) somam dívidas totais de US$ 69,1 trilhões. O Brasil também está neste bolo e a maior parte dessa dívida é interna que equivale hoje a quase 90% do PIB. 

O caso brasileiro é muito bem estudado e detalhadamente criticado, pela "Auditoria Cidadão da Dívida" uma associação criada desde 2000 e que mantém (aqui) um portal com muitas informações constantemente atualizadas que mostram que apenas os juros e amortizações das dívidas públicas tem consumido entre 40% e 50% do orçamento federal ano a ano.

De outro lado estão os EUA em que sua dívida somadas as dívidas públicas, das corporações, das famílias e financeiras chegam hoje a US$ 73,6 trilhões, equivalente a 106% do seu PIB. Nos EUA, chama ainda a atenção as dívidas estudantis que chegaram em 2018 a US$ 1,5 trilhão; o financiamento de compra de automóveis que chegou a US$ 1,1 trilhão; e a dívida geral com cartão de crédito que já ultrapassou US$ 1 trilhão. Só essas três dívidas equivalem a mais do dobro de todo o PIB do Brasil.

Esta enorme máquina das dívidas está puxando o sistema e alimentando aquilo que o professor chama de capital helicoidal, onde a sua trajetória tem levado a um esgarçamento com capturas crescentes de rendas da economia real e da financeira e colocando o capitalismo contemporâneo noutro estágio, tanto de acumulação e lucros quanto de riscos.

Riscos de repetição da crise de 1929, superando as crises financeiras da década de 90 e de 2008. Junto com a atual crise da democracia representativa liberal que se amplia em várias partes do mundo, poderá estar nos levando a uma fase de ruptura do sistema e até à barbárie, que hoje parece estar rondando com maior frequência o desenvolvimento capitalista contemporâneo.

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