POR MÍRIAM
LEITÃO
13/06/2017
06:01
Sofri
um ataque de violência verbal por parte de delegados do PT dentro de um voo.
Foram duas horas de gritos, xingamentos, palavras de ordem contra mim e contra
a TV Globo. Não eram jovens militantes, eram homens e mulheres representantes
partidários. Alguns já em seus cinquenta anos. Fui ameaçada, tive meu nome
achincalhado e fui acusada de ter defendido posições que não defendo.
Sábado,
3 de junho, o voo 6237 da Avianca, das 19h05, de Brasília para o Santos Dumont,
estava no horário. O Congresso do PT em Brasília havia acabado naquela tarde e
por isso eles estavam ainda vestidos com camisetas do encontro. Eu tinha ido a
Brasília gravar o programa da Globonews.
Antes
de chegar ao portão, fui comprar água e ouvi gritos do outro lado. Olhei
instintivamente e vi que um grupo me dirigia ofensas. O barulho parou em
seguida, e achei que embarcariam em outro voo.
Fui
uma das primeiras a entrar no avião e me sentei na 15C. Logo depois eles
entraram e começaram as hostilidades antes mesmo de sentarem. Por coincidência,
estavam todos, talvez uns 20, em cadeiras próximas de mim. Alguns à minha
frente, outros do lado, outros atrás. Alguns mais silenciosos me dirigiram
olhares de ódio ou risos debochados, outros lançavam ofensas.
—
Terrorista, terrorista — gritaram alguns.
Pensei
na ironia. Foi “terrorista” a palavra com que fui recebida em um quartel do
Exército, aos 19 anos, durante minha prisão na ditadura. Tantas décadas depois,
em plena democracia, a mesma palavra era lançada contra mim.
Uma
comissária, a única mulher na tripulação, veio, abaixou-se e falou:
—
O comandante te convida a sentar na frente.
—
Diga ao comandante que eu comprei a 15C e é aqui que eu vou ficar — respondi.
O
avião já estava atrasado àquela altura. Os gritos, slogans, cantorias
continuavam, diante de uma tripulação inerte, que nada fazia para restabelecer
a ordem a bordo em respeito aos passageiros. Os petistas pareciam estar numa
manifestação. Minutos depois, a aeromoça voltou:
—
A Polícia Federal está mandando você ir para frente. Disse que se a senhora não
for o avião não sai.
—
Diga à Polícia Federal que enfrentei a ditadura. Não tenho medo. De nada.
Não
vi ninguém da Polícia Federal. Se esteve lá, ficou na porta do avião e não
andou pelo corredor, não chegou até a minha cadeira.
Durante
todo o voo, os delegados do PT me ofenderam, mostrando uma visão totalmente
distorcida do meu trabalho. Certamente não o acompanham. Não sou inimiga do
partido, não torci pela crise, alertei que ela ocorreria pelos erros que
estavam sendo cometidos.
Quando os governos do PT acertaram, fiz avaliações
positivas e há vários registros disso.
Durante
o voo foram muitas as ofensas, e, nos momentos de maior tensão, alguns
levantavam o celular esperando a reação que eu não tive. Houve um gesto de tão
baixo nível que prefiro nem relatar aqui. Calculavam que eu perderia o
autocontrole.
Não filmei porque isso seria visto como provocação. Permaneci em
silêncio. Alguns, ao andarem no corredor, empurravam minha cadeira, entre
outras grosserias. Ameaçaram atacar fisicamente a emissora, mostrando
desconhecimento histórico mínimo: “quando eles mataram Getúlio o povo foi lá e
quebrou a Globo”, berrou um deles. Ela foi fundada onze anos depois do suicídio
de Vargas.
O
piloto nada disse ou fez para restabelecer a paz a bordo. Nem mesmo um pedido
de silêncio pelo serviço de som. Ele é a autoridade dentro do avião, mas não a
exerceu. A viagem transcorreu em clima de comício, e, em meio a refrões,
pousamos no Santos Dumont. A Avianca não me deu — nem aos demais passageiros —
qualquer explicação sobre sua inusitada leniência e flagrante desrespeito às
regras de segurança em voo.
Alguns dos delegados do PT estavam bem exaltados.
Quando me levantei, um deles, no corredor, me apontou o dedo xingando em altos
brados. Passei entre eles no saguão do aeroporto debaixo do coro ofensivo.
Não
acho que o PT é isso, mas repito que os protagonistas desse ataque de ódio eram
profissionais do partido. Lula citou, mais de uma vez, meu nome em comícios ou
reuniões partidárias. Como fez nesse último fim de semana. É um erro.
Não devo
ser alvo do partido, nem do seu líder. Sou apenas uma jornalista e continuarei
fazendo meu trabalho.