O engenheiro Roberto Moraes, professor e titular sênior da IFF (ex-CEFET Campos, RJ) diz que hoje se observa cada vez mais um moto contínuo. Uma máquina ininterrupta de multiplicação
das dívidas onde as taxas de juros
baixaram, mas a economia se globalizou e as cadeias de produção se
espalharam. As taxas de juros são menores, mas as taxas de lucros
maiores.
E quem tem dinheiro precisa fazê-lo circular sob a forma de papel ou capital
fixo. A máquina das dívidas é hoje quem puxa a economia e captura as rendas
locais. Não necessariamente através dos juros, mas com o controle dos negócios.
As
dívidas se dividem em dívidas internas (tesouro das nações) e as externas
tomadas pelos governos, corporações e as famílias e pessoas.
Agora
no meio do ano de 2019, o bolo da dívida mundial chegou a US$ 243 trilhões. Em
dezembro do ano passado elas eram de US$ 184 trilhões, segundo dados do IIF (Institute
of International Finance).
E que muitos estudiosos consideram esse "circuito das dívidas"
algo monstruoso e incontrolável, mas reconhecem o fato que ela tem movimentado o
capitalismo contemporâneo pelo lado da montante ofertando crédito, mesmo que a
juros menores, que parece em parte, compensados por maiores taxas de lucros, obtidas
pela captura das rendas derivadas do trabalho e da propriedade mundo afora.
De
um lado, as 30 maiores economias emergentes (incluindo a China) somam dívidas
totais de US$ 69,1 trilhões. O Brasil também está neste bolo e a maior parte
dessa dívida é interna que equivale hoje a quase 90% do PIB.
O
caso brasileiro é muito bem estudado e detalhadamente criticado, pela "Auditoria Cidadão da Dívida"
uma associação criada desde 2000 e que mantém (aqui) um portal com muitas
informações constantemente atualizadas que mostram que apenas os juros e
amortizações das dívidas públicas tem consumido entre 40% e 50% do orçamento
federal ano a ano.
De
outro lado estão os EUA em que sua dívida somadas as dívidas públicas, das
corporações, das famílias e financeiras chegam hoje a US$ 73,6 trilhões,
equivalente a 106% do seu PIB. Nos EUA, chama ainda a atenção as dívidas
estudantis que chegaram em 2018 a US$ 1,5 trilhão; o financiamento de compra de
automóveis que chegou a US$ 1,1 trilhão; e a dívida geral com cartão de crédito
que já ultrapassou US$ 1 trilhão. Só essas três dívidas equivalem a mais do
dobro de todo o PIB do Brasil.
Esta
enorme máquina das dívidas está puxando o sistema e alimentando aquilo que o professor chama de capital helicoidal, onde a sua trajetória tem levado a um
esgarçamento com capturas crescentes de rendas da economia real e da financeira
e colocando o capitalismo contemporâneo noutro estágio, tanto de acumulação e
lucros quanto de riscos.
Riscos
de repetição da crise de 1929, superando as crises financeiras da década de 90
e de 2008. Junto com a atual crise da democracia representativa liberal que se
amplia em várias partes do mundo, poderá estar nos levando a uma fase de
ruptura do sistema e até à barbárie, que hoje parece estar rondando com maior
frequência o desenvolvimento capitalista contemporâneo.