Na segunda metade do século passado, um
“jornalista” de Duque de Caxias, comumente fazia sua peregrinação, ora na Câmara, ora na Prefeitura
dos generais a fim de levantar um troco qualquer.
Sua picaretagem era democrática, não
livrava a cara de ninguém, gabava-se de ser amigo de todos, e dizia com orgulho
indisfarçável de que nunca em toda sua carreira teve um só desafeto.
Jamais se indispôs contra qualquer político, coisa assim de acender velas uma para Deus, outra ao Bispo. Exaltava as
excelências em seu jornal e, diante dos microfones da Rádio Difusora, com lágrimas nos olhos batia continência aos herois da pátria.
O Brasil, dizia ele, com os generais,
marchava para o progresso.
Os vereadores o adoravam. Por todas as
legislaturas se fez presente, o mais laureado da imprensa nanica, festejado com
as mais importantes medalhas da Câmara – e o primeiro da fila das verbas
oficiais.
Certa vez, ao ser interpelado por um
repórter do Jornal do Brasil, sobre os prefeitos e vereadores corruptos que se
locupletavam no cargo, saiu com essa pérola:
- “Não existiam provas e se existissem,
não provavam nada”.
A desfaçatez não tinha limites:
- “Acho inconcebível usar o microfone
ou jornal para dizer que um político roubou. Aonde se viu um homem culto, bem
vestido, ser acusado de roubo, ladrão é quem assalta a mão armada, um prefeito,
um vereador nunca roubam!”
Hoje, se vivo fosse, esse "cuidador da informação", cuja fauna se esquiva entre salas e corredores, que faz da profissão uma coluna social do apresento você a ele, e você me arruma uma comissão, seria um dos primeiros a puxar a fila pela regulação da
imprensa.
Para esses o golpe na receita
publicitária dos grandes veículos abrasaria seus recalques por não trabalhar lá, o controle indireto
do conteúdo à remissão dos pecados, e a estatização do jornalismo - a garantia duma carreira sólida e
sem riscos.