Na segunda metade do século passado, um “jornalista” de Duque de Caxias, fazia sua
peregrinação na Câmara e na Prefeitura dos generais a fim de levantar um
qualquer.
Sua
picaretagem era democrática, não livrava a cara de ninguém, gabava-se de ser
amigo de todos, e dizia com orgulho indisfarçável de que nunca em toda sua
carreira teve um só desafeto.
Verdade, jamais se indispôs contra qualquer um deles, coisa assim de acender velas para Deus e
o Capeta. Exaltava as excelências em seu jornal e nos microfones da Difusora
com lágrimas nos olhos.
Os
vereadores o adoravam. Por todas as legislaturas se fez presente, o mais
laureado da imprensa nanica, festejado com as mais importantes medalhas da
Câmara – e o primeiro da fila das verbas oficiais.
Certa
vez, ao ser interpelado por um repórter do Jornal do Brasil, sobre os prefeitos
e vereadores corruptos que se locupletavam no cargo, saiu com essa pérola:
-
“Não existem provas e se existirem, não provam nada”.
E
continuou:
-
“Acho inconcebível usar o microfone ou jornal para dizer que um político
roubou. Onde se viu um homem culto, bem vestido, ser acusado de roubo, ladrão é
quem assalta a mão armada; um prefeito, um vereador, um deputado e senador, nunca rouba!”
Hoje,
se vivo fosse, essa espécie sem pudor, seria a versão dos tantos que vão ao Facebook fazer a claque do político de mandato, com mimos de abençoado, meu futuro prefeito, esse me representa, etc, etc...
Não fosse a covardia de falar da Lei e da Ordem quando se trata de encouraçar os menos afortunados para ficar bem com as excelências, esse tipo de aberração poderia até receber a indulgência, afinal, trata-se da sobrevivência.