Por Nelson Motta, O Globo
Os estádios estão lindos e cheios, os
jogos de ótimo nível, com muitos gols e surpresas, as torcidas animadas e
pacíficas, as ruas fervilhando de gringos e de alegria. Independentemente da
performance da seleção brasileira, a Copa é um sucesso. Quem ama o futebol está
feliz.
Assaltos, arrastões, tiroteios, roubos
e furtos, achaques policiais, saidinhas de banco, sequestros-relâmpago — o
habitual cotidiano urbano brasileiro — sumiram dos noticiários e,
aparentemente, das ruas.
Com o Congresso em recesso futebolístico, cessam
temporariamente as negociatas vergonhosas, as tenebrosas transações políticas e
as propostas indecentes que prejudicam o país. Quem ama o Brasil está feliz.
Todo mundo que ama futebol e já foi a
um estádio sabe que nada se compara a ver um jogo ao vivo, no meio do calor da
torcida. Mesmo com todos os fabulosos recursos da televisão, o espetáculo no
estádio ainda é insuperável.
Enquanto a câmera apenas segue a bola, da
arquibancada se vê a totalidade do campo e a movimentação dos jogadores, as
manobras táticas e as possibilidades de jogadas e lançamentos, que são parte
importante da emoção do futebol.
Agora que se pode assistir ao jogo no
estádio ouvindo rádio e conferindo no celular os replays e os detalhes da
transmissão da televisão — e ainda comentando cada lance com os amigos, um dos
maiores prazeres do futebol, pelas redes — é show de bola.
Quem não deve estar tão feliz é Lula,
que trabalhou tanto pela Copa e ajudou o seu Corinthians a construir um
estádio, que adora futebol, mas não vai assistir a nenhum jogo porque tem medo
de ser vaiado, como nos Jogos Pan-Americanos de 2007, embora atribua a vaia a
uma conspiração de Cesar Maia, que teria até treinado milhares de militantes da
prefeitura para vaiá-lo… rsrs.
Pobre Lula, que imaginou desfrutar da
“sua” Copa na Tribuna de Honra, assistindo à vitória da seleção brasileira e
ovacionado pela multidão, vendo televisão em São Bernardo com dona Marisa. Para
quem adora futebol não pode haver pior castigo.
A vaidade vai vencer a paixão? O que é
uma vaiazinha diante de um jogão? Vai, Lula, vai!
Nelson Motta é jornalista.